segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Luis Antônio Gabriela" na sala de ensaio

Depois de nos encontrarmos durante alguns meses na casa do Nelson, por não ter lugar para ensaiar, o Teatro Sérgio Cardoso nos cedeu uma sala de ensaio!
Então no mês de julho passamos a nos encontrar todas as noites no Teatro Sérgio Cardoso.
Nas primeiras semanas continuamos com um trabalho "de mesa", o trabalho que o Nelson chamou de PESQUISA ARQUEOLÓGICA, pesquisando lendo e discutindo em cima do "levantamento arqueológico" ou também do que o Nelson chamou de "ruínas", tudo que foi levantado sobre a história de Luis Antônio e da sua família, diários, cartas, objetos pessoais, fotos, documentos, vídeos, depoimentos, relatos...

O Nelson começou a determinar algumas idéias sobre o espetáculo: "a história que a gente vai contar é a história do Luis Antônio"
Contando a história do seu irmão que se tornou travesti, e relatando toda a sua tragetória permeada por violência famíliar, abusos, discriminação, preconceito e descaso, o Nelson disse que a intenção da criação desse espetáculo é "contar as consequências do nosso descaso diante disso" e para o diretor, "esse espetáculo é um pedido de perdão, desculpe Tonio, eu não soube lidar com isso".

Depois de debruçados durante semanas em cima de todo o material arrecadado durante a pesquisa biográfica de Luis Antônio Gabriela, o Nelson pediu para que selecionássemos cenas, histórias e imagens marcantes do todo material levantado até então.
Todos escreveram os fatos mais marcantes para cada um em folhas de papel e organizamos na parede da sala de ensaio, tentando organizar uma primeira linha cronológica das histórias.
Cada folha dessa seria uma possível futura cena que irá compor o espetáculo.
Algumas dessas histórias que vamos contar aqui detalhadamente no decorrer do processo são: "Casa da Tony Star", "Vó Catarina" , "Parto no Banheiro" , "Askabide" , "Shows" , "Surras" , "Museu" , "Sedução e Leite" , "Primeiro de Setembro" , "Perua Rural" , "Velórios Bizarros" , "Festa 50 Anos" , "Edifício Nice" , "Álbum de Bebê" e "Árvore Genealógica".

Depois de algumas semanas o Nelson começa a conduzir o processo para um trabalho mais prático e de criação, sempre precedido de um aquecimento através da ativação e liberação da Kundalini que estimula a energia criadora, Nelson pede para que os atores investiguem individualmente, desde o aquecimento, o "TRANS" na movimentação de cada um, o trans-gressor, o trans-sexual...
Nelson se refere ao conceito de "Gestus"de Brecht e chama a atenção para a importância do "tônus" no trabalho corporal dos atores, "é preciso que o corpo tenha tônus, que no palco o corpo esteja sempre num estado de prontidão que pode mudar a qualquer momento, isso instiga e atrai a atenção do público" , sobre os gestos e movimentos dos atores Nelson diz: "gestos cotidianos não interessam, os movimentos devem ser extra-cotidianos e precisos".
Iniciam-se os primeiros estudos de performances com a orientação da Ondina e pesquisas de um trabalho de corpo, por exemplo com investigações dos corpos em relação à proteses, bixigas, ora cheias de ar, ora cheias de água e outros objetos, como roupas, acessórios, lingeries e sapatos de salto alto.
O Nelson diz que o desafio agora é "travecar, feminilizar os meninos, de modo que isso aconteça de dentro para fora" e "as mulheres, é necessário antes homossexualizar, masculinizar, para depois buscarem o travesti no trabalho corporal".
Pois a idéia inicial do diretor era de que todos, as três atrizes e os dois atores, atuariam no espetáculo como o travesti Luis Antônio Gabriela.
Em seguida o diretor pediu para que cada um dos atores escolhesse e trabalhasse em cima de um dos depoimentos recolhidos nas entrevistas com os parentes e amigos de Luis Antônio, e criasse um primeiro monólogo, que poderia se apresentado com uma proposta de cena.
Com isso a partir da união do trabalho arqueológico e de pesquisa e do trabalho prático e corporal, começam a surgir então as primeiras propostas de cenas performáticas.

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